Caminhadas e eventos apresentam história de territórios negros no centro da cidade

Novembro é o mês da Consciência Negra, feriado regional que completa quinze anos este ano.

A data escolhida, 20 de novembro, lembra a morte de Zumbi dos Palmares e a cidade recebe uma série de programações para celebrar a cultura negra na cidade de São Paulo.

Para quem quer conhecer a cidade a partir da perspectiva histórica da cultura negra, o Instituto Bixiga realizara uma caminhada no dia 24, partindoda praça da Liberdade. É preciso realizar inscrição no dia e o roteiro passa por pontos como Largo 7 de Setembro, antigo Largo do Pelourinho, e o Largo do Paissandu, onde encontra-se a igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

“A nossa ideia é promover uma ação pública de educação e cultural, fazendo uma aula de campo que promova uma maior identificação do público com a cidade e seu território”, explica Danielle Franco, pesquisadora do instituto. Ela conta que o roteiro é resultado de uma pesquisa histórica sobre a formação da cultura da cidade de São Paulo. “A gente foi buscar na música, na legislação, na historiografia, imagens, história das ruas, fontes das atas de câmara, nas fontes históricas e arquivos, tanto digitais quanto físicos, para poder mapear e reconstituir a história dos territórios negros e indígenas em São Paulo”.

 

Entre as descobertas, está o fato de a praça da Liberdade, hoje associada fortemente à cultura nipônica devido a imigração japonesa em meados do século XX, é, em sua origem, um território negro. “A partir do período colonial, vai se instalar todo um formato institucional da administração do reino português aqui na colônia. No âmbito penal, havia uma forca em cada cidade onde se cumpriam as sentenças de pena capital”, explica a pesquisadora, ao destacar o “apagamento” realizado após o final do período colonial.

“Na virada do século XIX para o século XX, o Brasil tentou apagar esta história ligada ao colonialismo e à escravidão, do açoite, e por isso não vemos muito essas marcas, Nem no nome das ruas e das praças. Por isso achamos importante recuperar esta história”, conta. Junto com o passeio, são apresentadas músicas e outros elementos culturais que contam as origens dessas regiões do centro da cidade.

Além do trajeto organizado pelo Instituto Bixiga,  o grupo Passeando Pelas Ruas também organiza um itinerário partindo da praça da Liberdade. O grupo se reunirá no mesmo dia e horário que o Instituto Bixiga, portanto é possível comparar os itinerários e escolher qual seguir.

Na região da Santa Cecília, o Aparelha Luzia, centro cultural de resistência da cultura negra na cidade, recebe até o final desta semana a 3ª Mostrado Audiovisual Negro. As exibições são gratuitas, sempre após as 18h, com filmes que abordam temas como superação e ancestralidade dos povos negros no Brasil.

Por fim, para reafirmar as raízes da nossa cultura, nada melhor que a gastronomia. Na rua Barão de Itapetininga é possível provar pratos típicos da cultura africana no Biouz. É possível provar pratos de diversos países a menos de R$ 50, além de drinks típicos. A região, até então degradada, tem passado por intensa transformação com a chegada de imigrantes do Haiti, Congo, Nigéria e outros países de população negra.

No largo do Paissandu, a presença massiva de imigrantes já se reflete no surgimento de restaurantes típicos do Senegal. Recém inaugurados e ainda pouco badalado, esses estabelecimentos oferecem pratos a preços mais acessíveis. Não se deixe enganar pela aparência pouco convidativa do local e aproveite para se reconectar com as raízes da gastronomia brasileira!

Por Cleyton Vilarino