São Paulo e Rio: Secretarias de Cultura assinam convênio de cooperação técnica

Alê Youssef

Os Secretários de Cultura das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, maiores polos do setor no país, Marcus Faustini (Rio) e Alê Youssef (São Paulo) assinaram, no Palácio Rio 450, em Oswaldo Cruz, um convênio de cooperação técnica, visando ao intercâmbio de conhecimento e de ações para artistas e técnicos das duas capitais.

Youssef aponta metas mais genéricas como a “troca de saberes, experiências e reflexões acerca das leis de incentivo à cultura, fomento à periferia, carnaval de rua, programa de formação cultural para jovens e intercâmbio cultural”. Mais do que uma carta de intenções, o encontro dos secretários marca a formação de uma trincheira das capitais culturais do país contra o que definem como uma “antipolítica” para o setor e a “ausência de uma estratégia nacional” por parte da Secretaria Especial da Cultura.

Ao ser nomeado para a pasta pelo prefeito Eduardo Paes, Faustini sinalizou a vontade de buscar parcerias com outros gestores culturais do país, e Youssef foi um dos primeiros nomes com quem o secretário buscou contato.

– A perseguição aos artistas que vemos nacionalmente hoje teve seu laboratório no Rio, durante a gestão Crivella, quando viramos párias nacional e internacionalmente. Para retomar a vida cultural vibrante que sempre foi característica do Rio, foi necessário, entre outras ações, nos reconectarmos às redes de produção cultural de outras cidades, estados e países — comenta Faustini. — Toda esta integração, na verdade, seria responsabilidade também do governo federal, que abdicou de ter uma política cultural pensada para todo o país. Os secretários de Cultura municipais e estaduais acabam sobrecarregados com as demandas dos produtores locais, ainda mais durante a pandemia.

Um dos pontos comuns no discurso dos dois gestores é a necessidade volta do Ministério da Cultura — desde janeiro de 2019, a pasta foi transformada em secretaria, vinculada atualmente ao Ministério do Turismo, após ser alocada inicialmente na Cidadania.

Alê Youssef e Marcus Faustini

– Aceitei o convite do prefeito Bruno Covas para a Secretaria de Cultura, para me antagonizar ao Governo Federal, por tudo o que já havia sido colocado durante a campanha. Defender o setor do processo de criminalização dos artistas que estava em curso a partir de uma cidade como São Paulo, foi o compromisso que me propus ao assumir a pasta. Temos na Secretaria Especial da Cultura um recalcado, que usa o cargo para se vingar da classe artística bem-sucedida, por meio de um processo ideológico —  diz Youssef, referindo-se a Mario Frias. — É hora de quantificarmos o impacto na economia criativa gerado pela falta de um ministério específico para a Cultura e de políticas públicas para o setor.

Youssef – que morou por quatro anos no Rio, onde esteve à frente de projetos como o Studio RJ, no Arpoador, e o Rivalzinho, na Cinelândia — também espera que a parceria renda frutos para outro evento cultural do ano, mas no calendário paulistano: as celebrações do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.

– Um dos eixos principais das comemorações será mostrar a Semana de 22 não como um evento eminentemente paulista, mas fruto dos vários modernismos que estavam em curso no Brasil. Teremos uma visão nacional, da produção paulista, carioca, gaúcha, pernambucana, entre outros locais, daquele período. Tenho certeza que é uma visão que Mário e o Oswald de Andrade, a Anita Malfatti, o Menotti Del Picchia e todos os outros modernistas também tinham naquele momento — ressalta Youssef.

Maurício Coutinho / jornalista / produtor cultural