Dos cordões aos megablocos: a ascensão do carnaval paulistano

Em menos de uma década, o carnaval de rua de São Paulo transformou-se em uma festa gigantesca.

No ano passado, ultrapassou o Rio de Janeiro e reuniu o segundo maior público nas ruas, perdendo apenas para Salvador. Com isso, a cidade confirmou sua vocação para o carnaval de rua, observada desde a década de 20.

A partir de 1967 foi que o então prefeito Faria Lima publicou uma lei que previa investimento da prefeitura no carnaval de rua.

Infinitamente menores quando comparados aos megablocos que desfilam pelas ruas do centro da cidade, os primeiros sinais do carnaval de rua de São Paulo sequer eram considerados “blocos” (ou seja, organizados profissionalmente). Eram, na verdade, chamados de “cordões”. “Eram grupos de pessoas que queriam brincar o carnaval. Não havia parâmetro”, conta Maurício Coutinho, jornalista envolvida com a festa desde 1978 e passagem por mais de três escolas de samba – entre elas Unidos do Peruche e Império de Casa Verde, campeã em 2016.

Bloco de Pré-Carnaval Ritaleena em São Paulo – Veja

O surgimento desses cordões esteve ligado a bairros fabris mas, principalmente, de origem africana, junto a margens de córregos que hoje abrigam os bairros de Bexiga (saracura), Barra Funda, Cambuci e Casa Verde. Essa regiões passaram a receber a população negra da cidade a partir do século XIX, quando o regime escravocrata dava seus últimos suspiros diante da Lei Áurea. Essas mesmas localidades atraíram, com o tempo, os imigrantes italianos pelo baixo valor dos terrenos.

Coutinho conta que, na Barra Funda, a mesma região que hoje abriga o Memorial da América Latina era conhecida por “Largo da Banana”. Naquele local, caminhões carregados com a fruta chegavam para abastecer a capital do Estado, tornando-o um ponto de encontro durante o feriado de Carnaval. Funcionários e carregadores aproveitavam a folga para pular o carnaval, aumentando a dimensão da festa que tomava conta da Barra Funda numa manifestação “descoordenada”.

Baile de Carnaval em São Paulo na década de 70

Só próximo da década de 70 os cordões de São Paulo passaram a se profissionalizar. Com a instituição dos concursos de Escola de Samba, ao modelo adotado pelo Rio de Janeiro, esses grupos passaram a se reorganizar também. Nos anos seguintes, o carnaval de rua da cidade minguaria até quase desaparecer para ressurgir no início dos anos 2000. O que mudou? “Os jovens perceberam que havia um carnaval mais dinâmico, prazeroso e mais independente”, avalia o veterano Maurício Coutinho.

O Carnaval integra oficialmente o calendário de eventos da cidade de São Paulo

Para além da força da juventude paulistana, com sua maioria da populacional entre 15 e 35 anos (dados do IBGE), o carnaval paulistano contou com um marco regulatório em 2015, quando a prefeitura publica o decreto 56.690, depois substituído pelo decreto 57.916 em 2017. Desde então, a festa passou a ganhar dimensões profissionais, inspiradas nas estruturas observadas em Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

“Essas cidades esgotaram todas as possibilidades de crescimento e as empresas que organizavam o carnaval nessas regiões passaram a trazer uma maior estrutura e um maior investimento para o carnaval paulistano. Tudo que já faziam na Bahia, passaram a fazer aqui”, explica Coutinho.

Este ano, a cidade de São Paulo espera receber 516 blocos em 556 desfiles e 300 trajetos cadastrados junto a prefeitura. Trata-se da maior quantidade de desfiles já registrado no município. O público previsto é de 5 milhões de pessoas entre os dias 2 e 5 de março.